
Roma – entre ruínas e mafiosos
Roma a cidade eterna. Outrora capital de um poderosíssimo império, hoje invadida por hordas de turistas. Eles vêm de todas as partes e alguns até possuem estandartes, principalmente os chineses. Na frente ele vai com sua bandeira, presa a uma anteninha, seguido pelos incansáveis batedores de fotos com mancha de molho no colarinho.
E existe conflito. No restaurante se você corta o macarrão com a faca, soa um alarme e imediatamente aparece o dono do restaurante, gesticulando: “Ma che?! Pazzo!” e leva seu prato embora trazendo a conta pelo seu desrespeito.
E cuidado. A máfia anda a solta por lá. Nas imediações do Termini, o grande terminal de trem da cidade, mafiosos perigosos se disfarçam de taxistas e decidem quem vai com quem em cada veículo. Mas não adianta perguntar aos italianos, pelo código de ética desde a época romana, eles sempre negarão, e com um sorrisinho no rosto dirão: “la mafia non esiste”.
Foi neste cenário histórico de impérios caídos e mafiosos perigosos que desci em Roma. Fiquei pertinho ao Termini, já era tarde da noite e caminhei com atenção pelas ruas históricas.
Piazza Spagna, Piazza del Popolo, Fontana di Trevi
Na manhã seguinte, como um cavaleiro Brancaleonico, marchei até o centro de Roma na esperança de captar com a minha visão, tão reconhecidos monumentos.
Mas… parece que não só os invasores asiáticos estão tomando Roma. Os publicitários e os departamentos de marketing, já se apossaram dos monumentos.
A Piazza Spagna, Piazza del Popolo, Fontana di Trevi, todas estavam cobertas de propagandas sob a desculpa de reformas. Será verdade ou era mais uma das tramóias típicas italianas? Talvez devesse cortar um macarrão com a faca e o cara do restaurante resolveria tudo pelo bem da Itália.



Mas nem tudo está perdido, ainda restaram relíquias intactas das mãos sujas do marketing mafioso.





Panteão
Sem me deixar abater segui firme até o Panteão. Fantástica construção de mais de dois mil anos! Hoje não se tem um consenso da finalidade do prédio quando erguido. Ele foi construído pelo Imperador Agripa entre 29 e 19 a.c. O prédio foi destruído num incêndio em 80 d.c., reconstruído e queimou novamente em 110, sendo reconstruído por Adriano e está lá até hoje. Em 609 o prédio foi dado ao papado que o consagrou em igreja, o que certamente foi o motivo de ele estar em pé até hoje. Esse prédio, que atravessou séculos, tem uma história maravilhosa e vale a pena ler aqui o que aconteceu.





Basílica de Santa Maria de Sopra Minerva
Eu já contei a história de Santa Caterina de Siena aqui e de como sua cabeça, dedo e pé foi separado do seu corpo e espalhado pela Itália. E não é que sem querer eu encontrei o corpo dela aqui em Roma? Depois que saí do Panteão dou com uma placa falando da igreja e que o corpo da Santa tava lá dentro.
Não tive dúvidas, entrei para conferir o que restou da coitada da Santa mutilada. Olha o que encontrei:

A basílica é bonita mas a concorrência em Roma é muito grande e como ela fica atrás do Panteão, ninguém a visita, só os fiéis mesmo. Mas para mim foi muito interessante para fechar a história um tanto bizarra sobre a Santa.

Piazza Navona, Altare della Pátria
Seguindo minha caçada incansável a história romana, chego a outra praça famosa: a Piazza Navona. Além das fontes belíssimas, é nessa famosa praça que o governo brasileiro, durante o mandato do Juscelino Kubitschek, comprou o palácio Pamphilj ao custo de 1 milhão de dólares, uma bela fortuna para a época, para ser a embaixada brasileira. O lugar pode ser visitado gratuitamente, basta agendar (apenas uma vez por semana).
Mas pra quê comprar um palácio para ser uma embaixada? Porque gastar o nosso dinheiro para manter um patrimônio italiano, sabendo como o patrimônio brasileiro sempre foi desprezado? Se não foi por safadeza é no mínimo estupidez. Ma che, stronzo! Figlio dun cane! Farabutto!



Indo em direção a Roma antiga chego a um monumento curioso, o Altare della Patria, e porque curioso? Ele parece antigo mas na verdade é muito recente para os padrões de Roma. o Altare della Patria é uma homenagem ao primeiro rei da unificação italiana, Vittorio Emanuele II, sua construção se iniciou em 1885 e terminou em 1911 e ela realmente é meio estranha. Apesar de bonita tem um aspecto de falsa se comparada a todos os outros monumentos dessa cidade e os romanos não tem grande apreço por ela, mesmo sendo o maior monumento de Roma.

O Altare della Patria já fica de frente para a Via dei Fori Imperiali, a avenida que está ao lado de todo o foro romano e termina no Coliseu. Vi o pôr do sol por ali pra voltar no dia seguinte.

Coliseu
Acordei cedinho para evitar as famosas filas imensas do Coliseu. Deu certo.

Símbolo de Roma, é nesse lugar onde muito sangue de inocentes foi derramado (e de outros não tão inocentes). Ver uma construção tão antiga com esse tamanho e engenhosidade é realmente impressionante.

Por isso ele é símbolo de uma era, de um império poderosíssimo que como tudo o que existe, tem seu nascimento, apogeu e inevitável morte. Andar pelo Coliseu e por todas as ruínas romanas é de certa forma como olhar um esqueleto num caixão.

Depois da queda do império romano o Coliseu foi usado para diversos fins, saqueado, sofreu com terremotos e ficou parcialmente arruinado mas ainda mantém a magia.

Foro Romano
Dá pra resumir o Foro Romano como o centro de toda a Roma antiga. Neste espaço estão as ruínas dos principais prédios que formavam o centro de poder romano. Senado, os gabinetes do estado, tribunais, templos, monumentos se espalham por essa praça enorme.
É como caminhar entre um cemitério com os seus ossos expostos. O que restou do que um dia foi o apogeu.





Circo Massimo
Atrás de toda a área do foro romano fica o pouco que sobrou do Circo Massimo, o lugar das perigosas corridas de bigas. Hoje é só um descampado com uma ruína da torre mas fiquei um tempo imaginando como seriam essas corridas (Ben Hur ajudou, hehe)


Vaticano, Basílica de São Pedro
Após minha exploração pelas ruínas do antigo império decidi visitar a opulência de um atual império: a igreja católica. Eu sou um ex-católico, convertido em agnóstico ateísta por mim mesmo e pago para não entrar em discussões religiosas (de longe as mais sem sentido que possam existir).
Mas sou um admirador de templos, de todas as religiões. A espiritualidade e tudo o que vem ligada a ela me fascina. E a Itália possui igrejas fabulosas. Uma delas sem dúvidas é São Pedro, no Vaticano.
São Pedro não é uma igreja para Deus, nem para santos, nem mesmo para Jesus. São Pedro é a igreja para os papas. Os bons e os canalhas, e a igreja católica teve mais canalhas do que bons.
Porém, à parte a canalhice de gastar fortunas para um templo em homenagem a homens comuns em detrimento aos fiéis famintos, os artistas que construíram tudo isso eram geniais. A praça e suas colunas foi projetada por Bernini (o queridinho dos papas), a igreja em si teve vários projetos e artistas que trabalharam nela: Bramante, Rafael Sanzio e o que determinou o projeto final e sua espetacular cúpula: Michelângelo.









Depois da visita a basílica decidi dar um passeio por Roma, passei em frente ao Castelo de Sant Angelo e fui caminhando até o bairro de Trastevere.

Villa Borghese
Não muito longe do hostel ficava a Villa Borghese, hoje um parque e onde fica a galeria Borghese com várias obras de arte. Era um domingo, acordei cedo e resolvi dar uma relaxada lá.
Laguinho tranquilo na Villa Borghese


Futebol em Roma – Estádio Olímpico
No meu quarto no hostel tinha dois brasileiros. Me falaram que teria um jogo, Lazio e Milan, e que tinham pago 20 euros na entrada. Eu tava muito afim de ver um jogo na Europa, o preço tava bom então fui no lugar que compraram e combinei com eles de encontrá-los no jogo. Quem disse que encontrei?


Para variar a Lazio tomou uma surra do Milan em casa por 3 a 0. O engraçado é que o comportamento é o mesmo daqui, só muda o idioma (e não tem psicopata disfarçado de torcedor). Antes do jogo todo mundo canta, aplaude o jogador, incentiva.
Começa o jogo e o futebolzinho chinfrim da Lazio acaba com a paciência do povo e daí a italianada solta os cachorros: reclama, xinga, fica nervoso. O principal alvo é o técnico: stronzo! Va fanculo! E outros xingamentos que eu não entendi.
Museu do Vaticano
No meu último dia fui a um dos mais famosos museus do mundo. O museu do Vaticano. Cheio de obras primas da renascença, tem em seu interior o mais famoso afresco do planeta na Capela Sistina. Dá uma conferida:

Os espetaculares corredores do museu do Vaticano


Todo mundo pode aproveitar a beleza de um museu como esse mas para realmente entender tudo o que se propõe essas obras é preciso tempo e muito estudo. Vale a pena antes de ir, fazer uma pesquisa sobre as obras que você encontrará e todo o contexto que as envolve.
A quantidade de referências é gigantesca e saber que cada pincelada teve um propósito além de ser apenas bonita dá uma dimensão muito maior da genialidade de cada artista.



A máfia
E aqui vou contar minha experiência com a máfia! Depois de Roma fui até a Sicília e passei um ótimo tempo por lá, mas ia para a Grécia e os voos mais baratos partiam de Roma.
Eu estava em Catânia, pegaria um voo até o aeroporto de Fiumicino e teria que trocar de aeroporto indo até Ciampino. Acontece que o voo de Catânia para Roma atrasou e eu acabei passando a noite no aeroporto de Fiumicino. Não tinha como sair de lá e o outro voo era pela manhã. Claro que não era só eu e acabei fazendo amizade com outros pobres coitados na mesma situação que eu.
Tinha um cara que ia fazer a mesmo coisa que eu, íamos de ônibus até o Termini e de lá pegaríamos outro ônibus até Ciampino. Era o jeito mais barato. O problema é que quando chegamos no Termini, tava uma zona, tudo lotado, não tinha lugar em ônibus para ir pro aeroporto. Para não perder o voo decidimos rachar o táxi.
Pegamos aqueles táxis que ficam atrás do Termini mesmo, estávamos entrando no táxi e aparece um cara arrastando uma mala e pergunta se dá pra ir com a gente.
Na hora eu falei, vambora, ia economizar mais uma grana! E daí o mafioso do taxista sai do táxi e fala que não ia levar o cara, que não podia combinar de ir junto. Eu achei absurdo, argumentei que pra ele não mudaria nada. Ele bateu o pé e falou que não ia levar. Daí falei que a gente ia trocar de táxi então. E o cara fala que nenhum taxista ia levar a gente. E os outros confirmaram. Farabutto!
O cara viu a confusão e desistiu, o cara que tava comigo também achou melhor arregar pro taxista mafioso, pois já estávamos em cima da hora e acabei aceitando e indo com o mafioso mesmo.
Mas vou te falar, naquela hora quase que eu corto a garganta daquele figlio dun cane!
La mafia non esiste! Sei…

