Recife – Eu te odeio!
“Recife! Cidade do mangue, incrustada na lama dos manguezais…”
Gosto muito de vários artistas pernambucanos, Lenine, Alceu Valença, Mundo Livre e principalmente Chico Science e Nação Zumbi.
Talvez por isso minha insistência em visitar Recife, apesar de todo mundo que eu conheci não recomendar a visita. Era uma questão emocional e muitas vezes a emoção nos faz quebrar a cara. Fui a Olinda também e por isso vou dividir em 2 pedaços.
Olinda
Por ser colada em Recife, a visita a Olinda é praticamente obrigatória para todos que vão a Recife. Chegando no centro histórico o que se tem é uma bela visão das ladeiras, com prédios antigos conservados e principalmente sendo utilizados, pois no Brasil é comum áreas históricas “pra inglês ver” bonitas e pintadinhas por fora e vazias por dentro (Recife antigo é assim).
A única coisa ruim de Olinda são os “guias” insuportáveis espalhados pela cidade, eles parecem flanelinhas culturais, a espreita de quem chega a cada igreja para dar informações que podem ser lidas na placa de entrada de toda igreja, por módicas quantias. Chega a ser constrangedor.
Mas deixando esses caras de lado Olinda é uma ótima visita. A cidade tem prédios belíssimos e com muita história. Visitei as principais igrejas, o convento São Francisco e subi na caixa d’água, onde se tem uma visão panorâmica da cidade.
Por ser um dia de semana, estava vazia e pude sentir a tranquilidade do lugar, caminhar pelas vielas, ver os bonecos gigantes e a história. Em cada placa fala de como os Holandeses queimaram a cidade e que depois foram expulsos. Olinda vale a pena!
Recife
Quem chega em Recife pela rodoviária como eu, já não tem uma boa impressão. Ela está localizada literalmente no meio do mato. Se não fosse ter a estação do metrô eu diria que só é possível sair dali com um guia.
Fiz a integração e fui de ônibus até o bairro de Boa Viagem, segundo todos o melhor para se ficar. Recife me lembrou muito São Paulo logo de cara, a cidade respira um clima hostil, de quem pode arrancar a língua de alguém que fale alguma coisa que o outro não goste. Caras carrancudas e cansadas de quem voltava do trabalho.
Fiz o check in e saí para comer alguma coisa, fui numa creperia chique perto do hostel pois estava faminto e poderia morrer de fome procurando outra coisa. Ao entrar no lugar uma moça se aproxima e fica olhando pra minha cara.
Nada de boa noite, oi, seja bem vindo, nada. Se eu não abro a boca provavelmente ainda estaríamos olhando um pra cara do outro. E isso aconteceu outras vezes pela cidade.
No hostel foi a mesma coisa, cheguei, paguei, e a moça simplesmente pegou os lençóis, me levou até o quarto em frente a recepção e disse que poderia escolher qualquer cama vazia e foi embora.
Eu que tive que perguntar de wifi, cozinha, lavanderia, coisas básicas que todos que chegam num hostel precisam saber. Bom, quem sou eu pra julgar todo um povo de uma cidade, mas recifenses, vocês precisam trabalhar a comunicação.
Eu tinha 3 coisas que queria ver em Recife, a oficina de Brennand, o Recife antigo e Olinda que conta numa viagem a Recife.
Descobri que a oficina é meio complicado de ir pois fica numa estrada de terra, não tem ônibus e os taxistas cobram o olho da cara para ir.
Decidi ir no Recife antigo então. Para resumir o Recife antigo na minha opinião é uma baita enganação. Somente os prédios das ruas frontais estão reformados e muitos estão vazios. Tem alguns centros culturais: da Caixa, Paço do Frevo, Museu Judaico e dos bonecos gigantes de Olinda.
Outros que existiam fecharam como o Santander Cultural. Tem o ainda em construção Cais do Sertão, a primeira etapa já está pronta e foi o que mais gostei. De resto tem cara de Recife, coisas belas e feias misturadas num caos ruim de ser.
Um detalhe importante é o parque de esculturas de Brennand nos arrecifes em frente ao marco zero. Tem apenas 15 anos mas já está em restauro, bem lento pra dizer a verdade, tem mais cara de abandono do que reforma.
A noite parece que tem uma cena alternativa bacana, mas o Recife antigo parece mais uma reforma meia boca do que uma área turística. O que salva é o carnaval que acontece ali.
Na Chapada conheci um casal de pernambucanos muito gente boa, a Renata e o Diego. Entrei em contato com eles pra tomar uma, fazer alguma coisa na cidade, o Diego tava viajando mas a Renata fez questão de me levar para comer a noite.
Fomos a um tal de restaurante do Bode, tudo de bode, carne de bode, picanha de bode, porção de bode, decoração de bode, cheiro de bode (brincadeira, o lugar era muito bom) e linguiça de bode. Experimentei a linguiça de bode (vão a merda com as piadinhas!) e gostei muito.
Como eu ia pra Manaus precisava tomar a vacina pra febre amarela, tentei tomar em outros lugares mas foi complicado, em Lençois tinha uma data certa, em Aracaju tavam de greve, em Maceió nem tentei e ficou pra Recife mesmo.
Depois de tomar café quando fui colocar meu tênis, pra ir atrás da vacina, ao segurar senti uma pontada no dedo, quando olho dentro tem uma taturana enorme! Não acreditei como aquela porra foi parar dentro do meu tênis!
Fui pra fora e bati o tênis contra a árvore até a bicha cair e mostrei pra mulher do hostel, que falou que elas estavam infestando o cajueiro. Fiquei com o dedo inchado e doendo e puto da vida.
Acho que pra compensar o ataque de taturanas assassinas que sofri ela me ajudou a achar um posto de saúde que desse a vacina. E lá fui eu de metrô até o tal posto. Bom… no posto até que tudo correu bem, mas o caminho… O posto ficava num bairro comum de Recife, nada turístico nem importante e ali pude ver ainda mais como Recife é uma cidade maltratada.
Esgoto a céu aberto, falta de calçamento, lixo, abandono total. Não consigo entender como uma cidade tão importante, tão grande e que tem dinheiro pode ter ruas tão deterioradas, tão imundas, com pessoas largadas, que vão montando seus barracos onde dá e onde o poder público parece inexistente. Triste.
Depois do posto almocei e voltei pro hostel pra trocar de roupa pois decidi ir a praia de Boa Viagem. Tava tão revoltado que ia pegar um tubarão a dentadas! Chegando lá tem um tiozinho tacando fogo nas taturanas que infestavam o cajueiro. Ele com um cabo de vassoura, uma tocha na ponta, colocava fogo na ponta e ia queimando as bichinhas. Ah, que prazer ver aquelas filhas da puta queimarem!
Cheguei na praia de Boa Viagem lá pra uma da tarde, calorão danado! A primeira coisa que eu reparei é que quase não tem sombra, os poucos coqueiros existentes só fazem sombra na areia e em espaços longos. Dei uma olhada no mar e após ler a placa de aviso de tubarão minha coragem de matar um tubarão a dentadas diminuiu na mesma proporção que minha sede aumentava.
Como não tinha sombra e eu não tava afim de ficar na areia olhando prum mar vazio a espera de tubarões, fui procurar um quiosque. Só que não tem!
Os quiosques da praia de Boa Viagem estão mais pra uma barraquinha minúscula arrumadinha, não tem mesa, cadeiras, nem sombra direito a porcaria das barraquinhas fazem.
Pelo menos devem ter uma cerveja gelada. Errado. Nem isso tinham. Tudo quente. Cada vez mais sedento fui atrás de uma breja na areia. O primeiro vendedor me entrega uma breja morna, reclamei e ele foi até um outro cara e me trouxe uma igual. Andei até outro cara mais á frente e a mesma coisa, isso se repetiu várias vezes.
Aí foi demais. Cidade suja, esgoto a céu aberto, clima hostil da população, praia com tubarão, uma porra de taturana no meu tênis, tudo isso eu admito, mas numa cidade praiana, na orla, a uma da tarde não ter uma cerveja gelada?!
RECIFE, EU TE ODEIO!
Próxima parada: João Pessoa