Lençóis Maranhenses – Como prêmio: um açaí
Em Jericoacoara eu peguei o transfer para Barreirinhas junto com o pessoal que conheci no hostel: o coreano Jun, o alemão Linus e a também alemã Marianne.
O transfer, fiquei sabendo depois, foi um tanto “mandraque” ao invés de nos levar até Barreirinhas ou Atins, nos deixou em Paulino Neves, e pagou o pau de arara até Barreirinhas.
Esse pau de arara vai por dentro, pelo areião, você vai chacoalhando uma hora, rezando pra não atolar. Pra nossa sorte o motorista era profissa e mesmo nos momentos mais tensos, quando quase atolou ou passou numa pirambeira com menos de 10 cm de sobra, nos deixou sãos e salvos em Barreirinhas.
Eu fiquei num hostel e os gringos ficaram em outro mais alternativo pois iriam dormir em redes. O meu era melhor localizado, perto do centro e combinamos de nos encontrarmos a noite pra uma cerveja.
Tomamos umas no cais dos barcos em Barreirinhas e eles me chamaram pra ir no hostel deles jantar, pois iam fazer um macarrão. Quando saí comprei umas Skol pra tomar com os gringos.
Cheguei no hostel e os gringos estavam todos felizes porque tinham feito uma caipirinha com uma pinga de 3 reais. Quando dei uma bicada senti o drama da parada.
Caipirinha feita por um coreano com pinga vagabunda. Jesuis!
Entreguei as brejas e o Linus, que como todo Alemão tava achando as nossas brejas muito aguadas, me fala todo animado: “Comprei uma outra para experimentar, Xim!”. Ele queria dizer Schin e vocês devem imaginar a cara dele quando provou.
O dono do hostel onde eles estavam era guia e eles iam à noite para Atins e partir de lá para cruzar os lençóis. Iriam até o primeiro oásis de Baixa Grande e depois voltariam para Barreirinhas em 2 dias.
Eu queria cruzar todo o parque passando pelos 2 oásis, mas não tinha com quem ir, então combinei de encontrar com eles em Atins e caso não encontrasse ninguém que atravessasse eu ia com eles.
Rio Preguiças, Caburé, Atins
No dia seguinte fiz o passeio que desce o rio Preguiças, passeio gostoso, com direito a parar em Vassouras pra tirar foto com macaco e tudo mais. O passeio ia até Caburé mas consegui um barco a preço camarada para me atravessar até Atins.
Lá encontrei um cara dono de acampamento que me falou que tinha um pessoal que ia sair aquela noite pro Canto do Atins para fazer a travessia, mas não tudo. Na procura pelo hostel que tinha reservado encontrei o Linus, a Marianne e o Patrício e resolvi ficar no hostel que eles estavam e ir com eles.
O Jun não ia, ele ia seguir viagem na volta ao mundo dele. Porém ia se juntar ao nosso grupo a alemã Julia(invasão Alemã!) e o francês Laurent.
Pra aproveitar a tarde nós fomos ver o vôo dos Guarás que em todo o entardecer cruzam o rio Preguiças.
A noite vi uma das coisas mais incríveis que já tinha visto em toda minha vida. Na praia de Atins nessa época do ano, quando está sem lua cheia, ou quando a lua já se foi, numa área sem iluminação, é possível ver umas algas que brilham no escuro.
Você entra na água no total escuro e conforme agita a água, as algas brilham, parecendo led’s. A sensação é de nadar em meio a led’s flutuantes. Fantástico!
Trekking nos Lençóis Maranhenses
No dia seguinte levantamos as 4 da manhã pra nossa caminhada até Baixa Grande, íamos seguir pela praia, parar pra almoçar, esperar o sol baixar um pouco e seguir.
Bom, o que dá pra dizer é que andamos feito condenados, pela praia até que o sol não estava tão forte mas ao pararmos nas barracas dos pescadores, tava todo mundo pregado e a Marianne antes de deitar no chão e ficar feito morta lá, só disse a frase: “Porque eu tô fazendo isso?”.
Realmente era pra se pensar. Comemos os salgadinhos que levamos, tomamos uma água e ficamos lá tirando uma soneca, deitado na areia com cheiro de peixe, todos morrendo. Mas… ainda tinha muito mais pra andar.
Quando o sol deu uma baixada nós entramos pelo parque e aí começamos a caminhar pelas dunas realmente. Quanto mais próximos estávamos do oásis, mais linda ficava a paisagem com as dunas e lagoas.
Nós estávamos desesperados pra dar um mergulho mas o Patrício disse que iríamos nadar um pouco mais a frente, numa lagoa maior, mais funda e mais próximo do oásis.
Bem não dá pra colocar em palavras o que é você andar o dia inteiro num deserto, debaixo de sol e de repente chegar a uma lagoa enorme, azul, esperando para um mergulho. Foi realmente um dos melhores mergulhos da minha vida.
Chegamos no oásis no pôr do sol, lá vive algumas poucas pessoas todas da mesma família. O lugar é literalmente no meio do nada.
Lá eles preparariam a nossa janta e poderíamos tomar um banho antes de dormir nas nossas redes reservadas. Depois de um dia inteiro andando no sol, aquele frango que eles mataram na hora pra gente foi uma das melhores comidas que já provei.
Na volta nosso grupo aumentou, apesar da saída da Júlia que foi com outro grupo para Santo Amaro, um outro grupo, com outro guia, iria para Barreirinhas, como os guias são todos amigos fomos todos juntos.
Esse dia iríamos andar somente pelas dunas durante o dia inteiro. Não é ruim andar sobre as dunas, o topo das dunas é firme só a lateral é que vai com o vento. Não é tão quente pois venta bastante, mas somados os 2 dias andamos 54 Km nas dunas e mesmo que fosse andar sobre algodão, no ar condicionado, cansa pra cacete!
Mas caminhar tanto tem uma efeito único sobre a gente, você vai sentindo a necessidade de se superar e foca no objetivo de terminar. Chegar inteiro é um prêmio.
Claro que durante a caminhada nadamos mais de uma vez em lagoas enormes, muito maiores que as pessoas visitam nos pacotes, que ficam próximos a Barreirinhas.
O fim também é grandioso, ao terminar o nosso caminho, após andar 2 dias debaixo do sol, damos de cara com uma floresta enorme fazendo divisa com o deserto.
Também chegamos no pôr do sol, pra fechar com uma foto sensacional de todo o grupo.
Durante a caminhada, cada um tava sonhando com o que ia comer na chegada e acabou todo mundo concordando em tomar um açaí.
Saímos direto dos Lençóis e paramos num lugar para tomar um açaí, todos com cara de refugiados, exaustos e famintos.
Dá pra imaginar que foi o melhor açaí da minha vida. E eu nem gosto muito de açaí.
Próxima parada: Alcântara