Chapada Diamantina – Quem diria Umbu…
Lençóis
Cheguei na chapada as 5 e meia da madrugada. Fui recebido com panfletos.
Não, não estavam jogando ao ar para comemorar alguma coisa, queriam que já fechasse os pacotes naquela hora, como não quis e já tinha hostel, só me indicaram o caminho, e era o caminho errado.
Pra minha sorte. Sim, pra minha sorte, pois foi indo pro lado errado que conheci uma figura: Dimitri. Eu estava andando pela rua vazia na madrugada de Lençóis, perdido, quando um loiro de cabelos compridos e olhos azuis, sai de uma casa e me dá bom dia.
Meu bom dia já foi seguido de um pedido de ajuda, só foi preciso que ele olhasse a foto do hostel que eu estava procurando e dissesse: Sobe aí no carro que eu te levo lá.
No caminho Dimitri foi me contando como ele, um italiano, foi parar na chapada, que fazia queijo, e que lá tudo era lindo. Mais tarde volto ao Dimitri, agora vamos a chapada.
No primeiro dia cheguei tão cansado que a cama de cima do beliche me abduziu e só me devolveu lá pras 10. Saí pra tomar um café e dei uma volta pela cidade. Lençóis é como o Pelourinho sem traficantes, sem ladrão e sem puta. E também tá cheia de gringo.
Fechei o pacote que é o city tour da chapada: Morro do Pai Inácio, Gruta da Lapa Doce, poço do Diabo, Gruta Azul e Pratinha.
Morro do Pai Inácio, Gruta da Lapa Doce, poço do Diabo, Gruta Azul e Pratinha
Na manhã seguinte logo que entrei na van pro passeio já rolou uma empatia no grupo. Pra ajudar ainda mais, o guia Rafael era muito engraçado.
Visitamos o Poço do Diabo, subimos no Morro do Pai Inácio, fomos a gruta da Lapa Doce e almoçamos na entrada do lugar que controla a Lapa Doce, onde montaram um restaurante para quem faz o passeio.
Eu tava tão enturmado que na hora do almoço pedi um suco de Umbu e fiz a infame piada do Pilu:
– Hum, quem diria Umbu ser tão gostoso!
A galera rachou o bico. Pra ser mais engraçado, no lugar tinha um pé de Umbu enorme e o Rafael emendou:
– Hum, quem diria Umbu ser tão grande!
Depois do almoço visitamos a gruta Lapa Doce e tentamos ver a gruta azul mas tinha passado da hora e virado a gruta preta e nadamos no pratinha. Sobre o passeio-city tour vale muito a pena. Dá uma olhada nas fotos pra comprovar:
Gruta do Lapão
No dia seguinte o pessoal fez o passeio dos poços encantado e azul. Eu achei que não compensava e preferi fazer um trekking em Lençois mesmo, a gruta do Lapão.
No hostel à noite aparecia um cara e ficava lá no sofá, fui trocar uma idéia com ele e descobri que o cara era guia.
Como não ia fazer o rolê dos poços, fechei com ele a gruta. Tão legal quanto o trekking foram as histórias que o Marcos, o guia, me contou pelo caminho. Contou a história da gruta e de como ela foi explorada em busca de diamantes.
Contou a história de sua família, de seu pai garimpeiro, de que tem uma filha, que foi casado e tal. Mas a história que mais me impressionou foi sua passagem pelo exército.
Entrou no exército com 18 anos, serviu 2 anos em Barreiras, Bahia, com 20 foi transferido pra Manaus. Lá fez treinamento na selva e ficou várias vezes com índios isolados num programa que o exército brasileiro faz de integração. Inclusive me contou que um dos seus colegas se envolveu com uma índia e nunca mais saiu da tribo.
Desde o ínicio foi avisado que isso não era permitido e se acontecesse a decisão seria dos índios e ele foi obrigado a ficar lá. Mas segundo o Marcos tá feliz da vida.
Numa dessas idas a selva, aconteceu um acidente com um colega. Eles estavam na trilha, o rifle do amigo enroscou num galho e disparou na própria perna do soldado que carregava a arma.
Os disparos esfacelaram a perna. O Marcos pediu um helicóptero de resgate pelo rádio, mas o tenente responsável se negou, dizendo que eles tinham treinamento suficiente para resolver a situação e chegar a salvo.
Ele e o outro amigo que acompanhava, tiveram que amputar a perna do acidentado, pois como estava era impossível conter o sangramento. Mas mesmo com os procedimentos, seu amigo não resistiu chegar até o posto de comando e morreu.
Ao chegar no posto o tenente que negou ajuda chegou já falando: Não disse que vocês tinham treinamento? Olha aí, tão inteiros. Marcos pegou seu rifle e deu na boca do tenente, quebrando o maxilar. Passou 2 meses preso.
O tenente pôs pino na boca mas continua no exército. Marcos saiu da cadeia e largou o exército. Voltou pra Lençóis e começou a trabalhar como guia.
Cachoeira da Fumaça
No dia seguinte voltei com o pessoal para irmos a cachoeira da Fumaça! para chegar até lá vamos de carro até o vale do Capão e depois temos 2 horas de trilha até o topo da cachoeira.
Os primeiros 800 metros são muito íngremes e até quem fez a trilha de Machu Pìchu tava peidando pra subir essa. Depois do início difícil, ainda tem uns mil metros subindo, porém uma subida suave e o restante é plano.
O que nos ajudou foi um carioca insuportável que segundo ele se chamava Axéprati. Esse cara queria ser o centro das atenções e falava pelos cotovelos.
Ele ficava no fim do grupo e como ninguém queria ficar ali, todos aceleravam o passo. No fim todo o esforço vale a pena pois a visão da Fumaça é sensacional!
Não acabou ainda não, continua em Chapada em desencanto