Viagem Europa,  Volta ao Mundo

Berlim – Mais história menos hipsterismo

Se você falar com alguém “antenado”, “mudernu” e perguntar que lugar do mundo ele gostaria de conhecer, a probabilidade de dizer Berlim é enorme.

Berlim se tornou como uma meca hipster, o lugar das idéias, do underground criativo do mundo. Pra ser sincero não fui pra Berlim procurando isso.

O que sempre me fascinou em Berlim é sua história única. Uma cidade dividida ao meio por um muro, de um lado o capitalismo, do outro o comunismo.

Berlim foi o símbolo máximo da guerra fria. E nesses tempos escuros no Brasil, onde ignorantes políticos chamam quem usa bicicleta de comunista, poder ir a Berlim é um privilégio. Ver como a história mostra que no momento em que as pessoas param de pensar e simplesmente agem como manada, só o que pode acontecer é dar uma merda imensa.

Arte de rua paulistana em Berlim - os Gêmeos
Arte de rua paulistana em Berlim – os Gêmeos

Tentando entender Berlim

Existe uma coisa sobre o povo alemão que é engraçada. Eles são conhecidos mundo afora, mas principalmente entre os europeus, como extremamente disciplinados.

Mas não como uma coisa autoritária (pelo menos pós 2ª guerra). Eles abraçam a disciplina naturalmente. Daí vem a organização deles.

Os próprios alemães vêem isso como natural e outros querem se libertar disso, principalmente os mais jovens, mas não sei até onde eles vão conseguir.

Um exemplo pra mim desse temperamento alemão eram os sinais de trânsito para pedestres.

Um sinal vermelho é um sinal vermelho, e mesmo que você olhasse para a avenida para os 2 lados e não estivesse vindo um único carro por kilômetros, nenhum alemão atravessava a rua.

Esperavam pacientemente o verde. De cara fiquei intimidado com aquilo e fiquei na minha esperando também.

Depois de uns 2 dias, já tava atravessando no vermelho mesmo, porque afinal de contas, essa rigidez alemã não tá no meu sangue e é contra isso que muitos jovens alemães tentam se libertar.

Existe um conforto nisso, seguir as regras como eles fazem é o que faz da Alemanha uma unidade, uma maneira de agir conscientemente pelo todo. Pelo menos é o que me parece.

E por tudo isso é muito estranho Berlim ter se tornado a meca da invenção, do novo, do underground. Mas talvez por tudo isso mesmo, toda ação gera uma reação e com a queda do muro essa rigidez alemã ruiu um pouco e deu espaço a criatividade.

Isso é lei!
Isso é lei!
Os velhos blocos de apartamentos comunistas
Os velhos blocos de apartamentos comunistas

E ao pragmatismo também. O alemão é extremamente pragmático. As coisas precisam funcionar acima de tudo.

Tem carros alemães lindos mas pode ter certeza que eles precisam acima de tudo serem confiáveis, seguros e econômicos, pois um carro é primeiro um meio de transporte e se ele não tiver essas 3 características a beleza dele não vale de nada.

Por isso o metrô de Berlim é velho, feio, capenga, mas como funciona, está ok para o Berlinense.

E aqui vai um parênteses, eu gostava muito de andar no metrô porque decididamente nunca vi tantas mulheres espetaculares num metrô como em Berlim.

Algumas vezes parecia que tinha entrado no vagão de uma agência de modelos tamanho a quantidade de beldades, e nunca tinha ouvido falar que as mulheres em Berlim fossem tão lindas.

Deve ser porque a as mulheres alemãs são extremamente despojadas. A maioria não usa maquiagem, não fazem nada no cabelo, roupas nada sexy, e mantém sempre aquele olhar austero alemão e um jeito de andar meio de soldadão que não mexe com a libido de ninguém.

As berlinenses foram as mulheres mais lindas que vi na viagem mas tão muito longe de serem sexys.

Um dos motivos do hype por Berlim são suas baladas. Berlim é considerada uma das melhores noites do mundo.

Mas eu não fui pra noite. Por ter alguns poucos dias na cidade e pelo povo que estava no meu hostel ( a maioria uma molecada européia, muitos ingleses, que vão até Berlim para enfiar o pé na jaca na noite a base de muita bebida e droga pesada) não me animei.

E toda vez que descia na estação de metrô perto do hostel traficantes vinham oferecer cocaína, heroína, ainda nas escadas da estação, na calçada, na esquina.

E juntando com o povo locão do hostel fiquei imaginando como não seria essa noite berlinense e foi me dando um “pré-bode” disso tudo.

Então preferi explorar a cidade durante o dia e toda a história única e incrível que ela tem.

Postdamer Platz, Portão de Brandenburgo, Gedächtniskirche, Tempelhofer park

Pois em meus dias de Berlim rodei pela Postdamer Platz, Portão de Brandenburgo, ilha dos museus, catedral de Berlim, Kurfürstendamm (avenida de luxo de Berlim), Gedächtniskirche (a igreja que não foi reconstruída para ser um símbolo contra a guerra), Gendarmenmarkt, Checkpoint Charlie, AlexanderPlatz, Tempelhofer park, Memorial de Guerra Soviético, Coluna da Vitória e até no zoológico eu fui, ou seja, eu andei pra cacete em Berlim.

Fundos da Postdamer Platz
Fundos da Postdamer Platz

Muro de Berlim

Muro de Berlim
Os rastros do muro por Berlim

Uma das coisas mais fascinantes na história do século XX foi com certeza o muro de Berlim. E fui atrás de tudo o que podia ver e entender sobre ele.

Das marcas no chão que identificam onde ficava o muro na Postdamer Platz, ao East Side Gallery onde artistas fizeram suas obras no próprio muro, uma visita ao memorial do muro na Bernauer Straße é fundamental.

Além de toda a história do muro completa no local onde o muro ficava, ao ar livre, é possível ver uma parte intacta do muro e um museu com fotos e a visão completa dessa parte intacta que dá pra entender perfeitamente como era a faixa da morte onde quem tentasse cruzar seria morto a tiros.

Trecho do muro chamado de faixa da morte, quem tentasse cruzar seria morto sem dó nem piedade
Trecho do muro chamado de faixa da morte, quem tentasse cruzar seria morto sem dó nem piedade

Memorial do Holocausto

E claro que não se pode esquecer do holocausto judeu. Berlim não teve campo de concentração mas por ser o centro da guerra, todas as decisões nazistas nasceram aqui.

Em 2005 construíram o Memorial do Holocausto, embaixo dele funciona um memorial explicando detalhadamente todo o processo de ascensão do nazismo, da perseguição aos judeus e do holocausto em si.

É um lugar difícil de visitar, passar um longo tempo vendo todas as atrocidades que foram feitas é dolorido e por isso mesmo vi muitas pessoas chorando.

E nesse ponto, até hoje muita gente se pergunta como um povo culto foi capaz de atos tão bárbaros e eu volto ao ínicio desse texto.

Quando as pessoas não pensam por elas mesmas e agem como manada, tudo desanda para um desastre físico, moral e ético que o povo alemão se envergonha até hoje e pelo jeito vai ser pra sempre.

Mas como o ser humano é ser humano, na Alemanha e em muitos outros lugares do mundo, o fascismo cresce e as pessoas estão parando de pensar.

No Brasil idem, mas o povo brasileiro, principalmente a classe média e a elite, nunca pensou sobre nada.

Sempre agiu como uma manada furiosa, manipuladora e sem coração, fazendo atrocidades sem remorso.

Memorial do Holocausto
Memorial do Holocausto

Será que é isso Berlim?

Voltando a história, Berlim foi completamente destruída na segunda guerra.

Com a derrota da Alemanha nazista, EUA, Reino Unido e França e a União Soviética de Stalin dividiram o país em 4 zonas de influência.

Essas mesmas 4 divisões também aconteceu em Berlim, porém Berlim como um todo estava dentro da parte sob influência soviética e virou uma ilha dentro da Alemanha Oriental comunista.

De 1945 até 1961, os alemães tinham livre trânsito entre as diferentes partes da cidade mas com o acirramento da guerra fria, o muro de Berlim foi construído para controlar o acesso entre as partes e quem tentasse pular o muro seria morto na hora.

Essa loucura só acabou quando em 1989 todo o bloco soviético ruiu e junto com ele o muro, que passou a ser apenas história. E que história hein?

Gedächtniskirche – a igreja que foi mantida destruída para lembrar os horrores da guerra
Gedächtniskirche – a igreja que foi mantida destruída para lembrar os horrores da guerra

Pós queda do muro e com a reunificação alemã, Berlim foi reunificada, reestruturada e reconstruída.

A parte mais bonita tinha ficado na área oriental mas partes históricas como o portão de Brandenburgo, tinham ficado tão próximas ao muro, e como o muro era uma área perigosa e deserta, várias áreas ficaram degradadas e no projeto de reunificação tudo foi reconstruído.

O que não dava foi reinventado como a praça Potsdamer Platz. Nessa reconstrução também veio junto a tal criatividade berlinense. Pois nem tudo foi reconstruído.

Foi sendo usado todo fudido mesmo. Feiras gastronômicas hipsters em galpões pichados sem teto e ferrugem por todos os lados faz parte do hype berlinense. Funciona, então ok.

Daí algum nova iorquino chegou em Berlim, viu um povo rico, organizado, usando espaços todos fudidos e elegeu tudo como inovador, contra cultura, fodásticos.

Acho que foi isso que aconteceu. Mas para um paulistano que cresceu num subúrbio industrial, lugar fudido, pichado e cheio de doido não impressiona muito não.

A história de Berlim é muito mais interessante do que o hype hipster que é passageiro, mas as marcas do que aconteceu nessa cidade nos últimos 70 anos não vão passar tão cedo.


Veja parte importante da história do século XX em Berlim!