Alcântara – Festa estranha com gente esquisita
Depois de cruzarmos o deserto, a Marianne sugeriu que fôssemos eu e o Linus para Alcântara com ela.
Eu sinceramente não tinha idéia do que ia encontrar lá. Só sabia que era lá que eram lançados os foguetes brasileiros.
Ainda ficamos sabendo que no dia que íamos, que era um domingo, era o último dia da festa do divino. Que divino? Também não tinha idéia do que era essa festa.
No google dei uma lida bem por cima, que era uma festa religiosa e também a ver com o tempo do império. Não entendi a relação mas não pesquisei mais nada.
Festa do Divino
No domingo de manhã pegamos o barco no centro de São Luis a caminho de Alcântara. Foi minha primeira travessia longa em alto mar a bordo de um barco e por muito pouco eu não chamo o Juca.
Alcântara é uma cidadezinha histórica e estava muito pacata. Para um lugar que ia ter uma festa achei estranho mas depois descobri porquê.
Todos estavam de ressaca. Acontece que a festa do divino dura 15 dias. Sim! 15 dias! E agora que vou explicar o que é, vocês vão achar mais estranho ainda.
Quando chegamos na praça principal da cidade, vimos o pelourinho, a igreja e somente uma casa tinha bandeirinhas brancas em frente.
Ao nos aproximarmos um senhor simpático nos ofereceu doces, pois era uma tradição da festa. Aproveitei a ocasião e perguntei a ele o que era exatamente a festa.
Segundo ele a festa é o seguinte: quando Dom Pedro era imperador do Brasil, declarou que ia a Alcântara visitar a cidade.
A partir daí a cidade toda se mobilizou para receber o imperador com toda a pompa e circunstância que um imperador, que também era declarado divino e sagrado, merecia.
A animação para a festa chegou a tal ponto que duas famílias importantes decidiram que construiriam uma casa nova para receber o imperador, competindo pela sua hospedagem.
Quando Dom Pedro soube que sua presença estava causando desavenças na cidade decidiu cancelar a visita.
Depois de todo o trabalho para organizar a festa, a população decidiu fazer a festa assim mesmo, e cumpriram todo o ato mesmo sem a presença do Imperador e por incrível que pareça a festa perdura até hoje, como se todos ainda esperassem a visita de Dom Pedro.
Depois eu até pesquisei de novo na internet mas nenhuma explicação cita a visita de Dom Pedro, mas também não explica o que tem a ver o Império com o divino espírito santo e pelo tudo o que vi lá a explicação desse cara é perfeita.
Junto a isso se misturam festejos religiosos e africanos, provavelmente porque existem festas de Espírito Santo em outros locais do mundo e uma vai influenciando outras.
O fato é que depois da explicação dele nos deram um chocolate, comi um doce de espécie numa lojinha antes e fomos visitar a tal casa do Mordomo, que estava enfeitada com as bandeiras vermelhas.
O caso é que aí que começou a bizarrice. Entrar naquela casa e ver todos aqueles apetrechos do império, um altar para o Imperador, um mini altar com Dom Pedrozinhos, tudo foi muito bizarro pra mim.
Depois aguardamos o fim da missa que iniciaria o cortejo do Imperador pelas casas dos mordomos.
O Imperador era um garoto de uns 15 anos com cara de “o que eu estou fazendo aqui?”.
Ao redor dele formava como que o séquito do Imperador e abrindo o cortejo as senhoras Caixeiras.
Seguimos o cortejo num sol de rachar e pensei que em algum momento os alemães iriam derreter e ficar ali naqueles paralelepípedos tortos das ruas.
Paramos para almoçar e após o almoço passamos numa praça onde um bando de bebuns enchiam a cara ouvindo reggae num carro de som preparado, daqueles com uma parede de som na caçamba, no último volume.
O caso é que a Marianne cismou de querer ir lá conferir de perto aquilo e acabamos todos numa mesinha a uns 5 metros daquela coluna de som animal, cuspindo reggae a toda potência.
Pior que os bebuns, com suas panças e caras de doido, começaram a rebolar e a alemã rachava o bico.
Os alemães queriam ir até a praia de Alcântara, fomos perguntando onde era e acabamos em um mangue. Para ir até o outro lado, onde ficava a praia, só tinha um barquinho zuado que atravessava as pessoas.
Pra ter uma idéia do “barco” pra ligar o motor o marinheiro usava uma manivela. Tentava ligar, porque não tava conseguindo, até que o “capitão” se irritou, pegou a manivela e ligou ele mesmo.
A praia não tinha nada demais, nadamos um pouco para passar o calor e voltamos. Nesse tempo a maré baixou e agora não era mais possível o barco vir no mesmo ponto que havia nos deixado antes.
Agora tínhamos que ir com água acima do joelho até o barco e pular pra dentro. Na minha primeira tentativa não consegui e foi nessa que molhou meu celular e ele morreu.
Além disso para atravessar o mangue demorava então encheu de gente esperando esse barquinho, pra não perder a viagem ele lotou o barco de gente.
Quando ele tava atracando o barco do outro lado, foi só ele encostar no píer que todo mundo que tava naquele lado se levantou, o barco deu uma balançada e um cara que tava sentado na borda do barco, do meu lado, caiu com roupa, celular, carteira e tudo.
E o coitado ainda teve que nadar atrás do chinelo que saiu boiando na água do mangue.
Quando eu vi essa cena eu fiquei uns 5 minutos rindo sem parar e até hoje quando eu lembro eu dou risada.
Na volta pegamos um catamarã e foi bem gostoso porque eu fui no teto só curtindo a brisa do mar e nem enjoei.
Chegando fomos a estação pegar o ônibus e voltou a bizarrice. A gente tava no ponto de ônibus esperando o nosso ônibus destino São Francisco, toda vez que chegava um ônibus em alguma plataforma um bando de gente saía correndo da onde tava pra pegar o ônibus.
Isso se repetiu umas 4 ou 5 vezes até que o Linus não se conteve e disse: – What the fuck’s going on? Eu também não tava entendendo nada.
Depois de um tempo que percebi que os ônibus tinham um ponto para cada linha, mas várias linhas tinham o mesmo destino, então quando a pessoa ia para aquele destino e tava num outro ponto saía correndo.
Quando expliquei isso ao alemão ele ficou só de olho nos ônibus que chegavam, até que uma hora só ouvi o grito: – São Francisco! E ele saiu correndo.
No meio do caminho tropeçou e saiu catando cavaco, olhei pra trás e a Marianne também saiu correndo e rachando o bico. E eu fui atrás.
O pior é que era o ônibus errado, ainda tivemos que descer num outro terminal e pegar o ônibus no sentido certo. Pois é, esse foi um dos dias mais bizarros que vivi. Eita!
No dia seguinte fomos juntos ao aeroporto pois cada um ia a um lugar. A Marianne ia pra Belém, eu pra Santarém e o Linus para Manaus.
Ainda deu tempo de tirarmos uma foto no aeroporto antes de cada um seguir seu caminho. Espero algum dia encontrar esses 2 de novo. E como eu disse a eles, eu adoro alemão porque é um povo que nunca diz não a uma cerveja.
Próxima parada: Manaus