Loikaw – conhecendo as mulheres girafa
Em Inle Lake, as holandesas Lianne e Petra nos falaram que perto de Loikaw visitaram uma vila onde ficavam as chamadas mulheres girafa.
Eu fiquei curioso, já tinha visto fotos e eu queria ver como era aquilo de perto.
Então decidimos ir até lá conferir.
Pegamos uma van e fomos sem reserva para lá. Ficamos caçando um lugar para ficar, com bom preço e foi curioso que um dos lugares se recusou a nos aceitar. Disse que se fosse uma pessoa até aceitaria mas como estávamos em cinco não dava. É que em janeiro de 2016 a ditadura ainda controlava o país e turistas estrangeiros só ficavam onde o governo autorizava.
Enfim achamos um lugar e depois fomos até a casa do guia para combinar visitar a vila.
Os Kayan
O nome do povo é Kayan Lahwi. Eles são do Myanmar mas muitos foram para o norte da Tailândia. Por isso que lá também são encontradas essas mulheres.
Visitar lugares assim é meio complicado pois nunca se sabe o que encontrar. É comum que um costume antigo, tribal, curioso, vire uma atração turística e o que era autêntico se torne mero caça níquel. Ou pior. O autêntico seja explorado por outras pessoas e esse costume se preze a algum tipo de freak show.
Na Tailândia parece que esse mesmo povo não tem seus direitos respeitados e o próprio governo obriga que elas usem as argolas para incentivar o turismo.
Como as holandesas já tinham visitado e contado que tudo era autêntico e o guia era da região e não uma agência turística e conhecia as pessoas de lá ficamos mais seguros de que não era uma furada nem para nós nem para as pessoas da vila.
No lugar combinado o guia nos pegou e em pouco menos de 1 hora chegamos. O lugar era bem parecido com as vilinhas que passamos durante nosso trekking até Inle Lake.
Saindo do carro já vimos uma menininha com aquelas argolas no pescoço. Daí o guia nos levou até a senhora que é praticamente a embaixadora da vila. Pelo menos para os turistas.
Hoje ela vive basicamente de tirar fotos e vender artesanato. Ninguém na vila fala inglês então o guia era nosso intérprete. Na verdade ele já tinha respondido muitas das nossas perguntas no trajeto.
A principal é que o pescoço não alonga. É uma ilusão de ótica. São os ombros que são comprimidos parecendo que o pescoço se alongou. Isso desfaz outra lenda de que se tirar as argolas o frágil pescoço esticado se quebraria. Elas conseguem tirar as argolas mas segundo o guia só os maridos podem fazer isso.
Dói? Com certeza. É muito pesado, machuca a pele e restringe o movimento. Mas é comum em diferentes tribos mundo afora algum tipo de modificação do corpo e adereços dos mais estranhos.
E porque elas usam as argolas? Parece que ninguém sabe ao certo. Segundo o guia pura estética e status dentro da tribo. Segundo outras versões para proteger de ataque de tigres e de outras tribos. Acho que estética faz mais sentido.
É estranho que algo tão radical seja só por estética mas basta andar em qualquer grande cidade e ver a quantidade de pessoas com tatuagens, piercings, alargadores de orelha e que ainda pegaram tudo isso de tribos como essa que a sua resposta vai estar pronta.
O fato é que o turismo hoje é importante para essas mulheres. O guia disse ser de bom tom contribuir com elas para tirar fotos. Talvez aí resida o problema e se escale para a exploração pois a tradição por si só vira fonte de renda.
É uma situação complicada. Contribuí, tirei algumas fotos, tomei um chá numa outra casa. Elas também produzem belos chales com tear manual.
Demos uma volta na rua principal e depois o guia nos levou a uma casa de uma conhecida dele numa outra parte. Ali ele mostrou um pouco da casa dela, ela nos mostrou o tear, como descascavam o arroz e os vários preparos feitos com ele. Ainda deu tempo de brincar um pouco com as crianças que saíam correndo de medo da gente.
Cavernas budistas
Depois da vila o guia fez questão de nos levar até umas cavernas sagradas. Com certeza não é turístico pois o lugar fica dentro de uma área militar. Ainda procurei na internet para saber o nome em inglês mas não encontrei nada.
Elas foram decoradas e modificadas para receber várias imagens de Buda. É comum na Ásia cavernas virarem templos. Na volta para a cidade ainda deu tempo de comer um belo shan noodles muito saboroso e muito barato.
Nos dias de hoje com a indústria do turismo ávida por atrações, se criou um debate sobre passeios a tribos como essa. Qual o impacto que isso gera nessa sociedade? Ele é positivo ou negativo? É difícil uma resposta definitiva.
Nesse caso específico só elas que podem dizer. O que reconheço é que mesmo quando se viaja com a melhor das intenções e mesmo que você pretenda ser apenas um observador neutro só o fato de ir ao lugar já o afeta de alguma maneira. De grandes cidades a pequenas aldeias.
O melhor a fazer é aprender uns com os outros e esse contato com o diferente seja um meio de se criar mais empatia pelo próximo respeitando o que ele é. E o mundo tá precisando muito disso.