Em Yangon conversando com o pessoal do hostel muita gente falou de Kalaw, uma cidade nas montanhas com muita trilha. Uma das melhores era uma trilha de 3 dias de Kalaw até o lago Inle.
Como a gente tava aberto para o que viesse decidimos eu, o Miquel e a Mischa ir para lá.
Pegamos um ônibus noturno, a Mischa também mas ela foi em um cheio de frescura enquanto fomos no modelo roots mesmo.
A exceção que confirma a regra
E não é que aconteceu uma parada sinistra?
O povo de Myanmar por regra é muito simpático, solícito, curioso com estrangeiros depois de tanto tempo com o país fechado. Só que nessa viagem conhecemos a exceção que confirma a regra.
Durante uma parada, um cara começou a tentar conversar com o Miquel. Sem saber inglês o jeito foi apelar para futebol (que aliás o povo de Myanmar adora).
Ele começou a falar que era de Barcelona e falou de Messi e tal. O cara parecia que tinha gostado, sorriu, “Barcelona, Barcelona”.
Jantamos e depois eu entrei no ônibus enquanto o Miquel ficou lá fora comendo um doce. E não é que esse cara foi nele e começou a falar um monte de coisa na cara dele de forma bem agressiva?
O Miquel não entendeu nada. Chegou do meu lado com uma cara bem assustada, dizendo que aquele cara simpático agora tava sendo bem agressivo. Achamos estranho mas ficamos na nossa. Quando o cara entrou ainda começou a falar de novo para ele até que um amigo tirou o cara e levou para o fundo do ônibus.
Daí que o ônibus faz outra parada. Dessa vez eu fui até o banheiro e esse mesmo cara veio pro meu lado tentando puxar conversa também. Dei uma de migué e fui nessa do futebol com Brasil, Neymar. E o cara começa com um monte de abobrinha pro meu lado também.
Como não dava pra entender o que ele tava falando, fiz que não era comigo e me pirulitei pra dentro do ônibus. O Miquel fez a mesma coisa. O maluco ficou lá no lugar, não sei onde.
Daí que na hora de sair começa um bate boca, um disse me disse do motorista com um dos amigos desse cara. Quando percebemos vimos que o marrentão tinha sido esfaqueado na parada. Eita porra!
O fato é que o amigo queria subir com o cara esfaqueado no ônibus e o motorista fechou a porta e não deixou entrar.
Ficou aquela discussão e o motorista sabiamente largou os encrenqueiros pra trás. Homem machão babaca querendo arrumar briga tem até do outro lado do mundo e geralmente acaba se fodendo.
E queria deixar claro que esse cara é totalmente exceção mesmo. Totalmente o contrário do que encontramos por lá.
Kalaw
Em Kalaw encontramos a Mischa e ficamos os três no mesmo quarto. A Mischa tinha chegado antes e fez amizade com o Jason, um canadense que encontrou ela meio que na rua, passando frio de madrugada esperando a gente. Acabou que ela dormiu no quarto dele enquanto a gente fugia de ser esfaqueado.
No dia seguinte contratamos o serviço do trekking para Inle Lake e demos uma volta ali em Kalaw mesmo. Uma cidade pequenina, bem simpática e gostosa de ficar. Demos um rolê, almoçamos no mercado central, tomamos um chá. Ficamos só de bobeira carregando as baterias.
Trekking de Kalaw a Inle Lake
Dia seguinte de manhãzinha, reunimos todos no hotel que sairia o trekking. Seriam 3 dias andando até o lago. Nossas mochilas iriam direto para Inle e só levaríamos o necessário para o trekking. Tava tudo incluído, guia, comida, lugar para dormir.

No nosso grupo além de nós quatro (o Jason ia com a gente) ainda iriam 3 holandesas, a Petra, a Renske e a Lianne e uma alemã a Miriam.
Posso dizer com certeza que foi um dos melhores grupos que já fiz trekking. Pessoal muito legal, sem frescura que rapidamente se integrou. Nossa guia era a Nanouk. Uma menina de 19 anos que parecia ter 13, muito simpática.

O trekking é tranquilo. Caminha bastante mas num ritmo bom e ainda com boas paradas. Paramos para almoçar e a primeira noite passaríamos numa vilinha de agricultores que cultivam pimenta. As vilas não tem energia elétrica é ultra roots.
O mais legal é como mesmo essa rota já sendo feita por turistas estrangeiros um bom tempo o povo ainda fica curioso, principalmente as crianças. Elas se aproximam meio receosas estranhando aquele povo com cara diferente.


Uma vila apimentada
O legal é que mesmo numa vilinha distante tem uma cervejinha para a gente relaxar. Tava quente porque não tinha geladeira ali mas a gente colocou na água fria e com sede desce.
Nessa vila não tinha chuveiro, nem de água fria, o banheiro era só uma cabaninha com aquela privada oriental que é um buraco no chão. Quem quisesse tomar banho seria de canequinha e no meio de todo mundo. Por ser uma região montanhosa e ser inverno a noite fazia um frio considerável e todo mundo deixou o banho pra lá.

Dormimos todos em colchonetes no chão, um do lado do outro no estilo do exército, o quarto até que era grande e ficou confortável. Para a janta um cozinheiro ia de moto e cozinhava para a gente e também o café da manhã.

Dia seguinte acordamos cedinho para ver o nascer do sol e pegamos a trilha de novo. A paisagem é de montanhas e vales cobertos de pimentas. O roteiro era basicamente o mesmo. Caminhar até uma outra pequena vila para almoçar só que dessa vez iríamos dormir num monastério budista!




Pé na estrada de novo. No meio do caminho um riozinho para refrescar. Tava meio frio, a água gelada e decidi não entrar. Uma galera até tomou banho ali mesmo. Eu fui confiando que no monastério ia ter um chuveiro. Depois vi que não era bem assim.


Monastério Budista
O monastério ficava no topo de uma montanha num lugar lindo. Fomos recebidos por um monge que nos mostrou onde dormiríamos, que foi no mesmo esquema de colchonetes e a Nanouk avisou o horário da janta.


No monastério tinha onde tomar banho. Chuveiro não tinha e também não era num banheiro. O que tinham lá era uma tina de concreto, cercada por uma parede que batia no peito e você poderia tomar banho ali mesmo no pátio.


Quando chegamos alguns monges estavam tomando banho ali. Eu já não aguentava mais ficar sem banho e decidi tomar banho ali mesmo. Tinha até uma filinha de outros viajantes que também estavam lá. Chilenos e argentinos. Só sulamericano gosta de banho minha gente. Tomei meu banho de canequinha gelada e me senti muito melhor.
Aí foi só alegria de jantar e ainda deu para tomar uma breja, não no monastério que não podia beber. Tínhamos que ir comprar numa barraquinha lá na estradinha de terra. E ainda as 9 da noite apagavam as luzes. Ainda ficamos um tempinho conversando a luz de vela e depois todo mundo foi dormir porque afinal ali era um local sagrado.
De manhã ainda vimos um pouco da rotina dos monges. Esses monastérios são cheios de crianças. Num país onde claramente a população tem muita dificuldade, ser monge é além de uma oportunidade de bons estudos, uma honra e garantia de respeito. O povo realmente respeita muito os monges não só em Myanmar mas em todos os países budistas.

No almoço mais uma vilinha só que dessa vez era também nosso ponto final. De lá pegamos um barquinho que foi direto para o centro de Inle Lake.

Se você for um dia para Myanmar essa trilha é obrigatória. Ela tem tudo o que faz de um passeio desse especial. Natureza, cultura e diversão.
