
Hsipaw – desfile de guerrilheiro
Após nossa passagem por Mandalay seguimos para o norte de Myanmar para fazer trilhas. Parte do norte do país estava proibido de ser visitado pois grupos guerrilheiros estavam em confronto com o governo. Isso quando visitei o país em jan/2016, não sei como está agora depois que o primeiro governo civil foi eleito em mar/2016.
Myanmar tem um histórico de conflitos étnicos e pela democracia que se espalham pelo país e a ditadura militar sufocou violentamente vários levantes durante os anos. Hsipaw ainda não estava numa área dessas mas ficava próximo.
No ônibus que fomos para Hsipaw conhecemos duas holandesas e um alemão que iriam fazer trilhas lá também e fomos meio que no vácuo deles. Chegando lá ficamos no mesmo hotel. Lá apareceu um guia para as trilhas e fechamos um grupo. Seriam três dias pelas montanhas, almoçando e dormindo nas pequenas vilas e no final retornando para Hsipaw

Pior que de manhã uma das holandesas ficou doente e as duas decidiram ficar. O grupo ficou eu, o Miquel, o Gary um escocês muito engraçado, um casal da República Tcheca a Lenka e o Petr e o alemão André. Além do guia Than que era de Myanmar.
Pelas trilhas nas montanhas de Hsipaw
Eu gosto de enfatizar os diferentes países para dar uma idéia de como o grupo era heterogêneo. Mesmo que todos tenham um certo pensamento igual em relação a viagens, no convívio se tem uma grande experiência com as diferentes culturas de cada um.


Saímos de manhã e já fomos direto para conhecer uma fábrica local de macarrão de arroz. As trilhas em Myanmar são bonitas, gostosas de fazer mas com certeza o aspecto mais empolgante é esse contato com a cultura local. Caminhar pelas montanhas, entre plantações de chá a perder de vista é muito legal mas chegar numa vilinha escondida no meio das montanhas onde as crianças tem medo até do nosso guia é fantástico.


Você se sente como se realmente estivesse desbravando o lugar. Não tem absolutamente nada feito para o turismo. Tudo o que comemos e utilizamos é usado por eles também. Nada de privada para ocidental, comida ocidental, sinal de celular, cama, nada disso. Foi realmente um mergulho no interior do país.


Talvez a única coisa que se possa dizer que não seria tão comum por ali era a cerveja. Mas a julgar pelo nosso guia que gostava de tomar uma com a gente acho que o povo já curte uma cervejinha a algum tempo.

Os três dias foram basicamente do mesmo jeito. Caminhada pelas montanhas, as vezes bem puxada, só subida, almoço num armazém ou na casa de alguém em uma vilinha. Á noite, ficávamos numa casa ou loja também numa pequena vilinha com direito a uma cervejinha antes de dormir.

Chuveiro não tinha. Banho só de canequinha. A vantagem talvez é que por Hsipaw ser numa região de montanhas e estarmos no inverno não fazia tanto calor. A noite fazia era frio e eu pelo menos não ficava todo suado e louco por um banho.
Desfile de guerrilheiros
O mais louco aconteceu num dos lugares que paramos para almoçar. Estávamos lá esperando ficar pronto, todos sentados na frente do lugar quando do nada passa um cara, baixinho, com uniforme militar e um fuzil na mão.
Olhamos um para o outro e o Than começou a explicar que ali era uma região com guerrilheiros. Eles estavam lutando pela queda do regime militar e em apoio a líder pela redemocratização Ang Suu Kyi, que após as eleições em mar/2016 acabou virando uma espécie de primeiro ministro no país.
Passa cinco minutos e todo um batalhão de guerrilheiros com fuzis passa na nossa frente. Acho que todo mundo ficou um pouco apreensivo pois vai que esses caras cismam com aquele bando de estrangeiro perdido no meio daquela vila. Se for pensar bem o que que um turista vai fazer no meio daquele nada?
Para nossa sorte, apesar dos olhares curiosos deles, continuaram com sua marcha para fora da vila. O alemão ainda quis dar uma de louco e tirar uma foto e claro que o guia não deixou. Aí seria abusar demais da sorte.

No caminho ainda fomos gentilmente recebidos por um monge num mosteiro numa vila bem humilde e ganhamos uma carona num daqueles caminhões bizarros que existem em Myanmar.


Novamente demos muita sorte de estar num grupo de pessoas sensacionais. Ninguém tinha frescura nenhuma, viramos amigos praticamente instantaneamente. O mais engraçado é o quanto tiramos o sarro do Gary. Ele é escocês e era o único falante nativo de inglês, só que o sotaque escocês é horrível, ninguém entendia o que ele falava e só nos sobrou tirar sarro do inglês dele.

Na volta a Hsipaw ainda fomos comemorar num barzinho perto do hotel, o Yuan Yuan que faz ótimas batidas e sucos e ficamos lá enchendo a cara.

Antes de ir embora ainda deu tempo de visitar alguns templos históricos pela cidade.

O melhor de Hsipaw foi esse contato com a cultura local e de cada amigo feito na viagem. Isso te mostra o quanto nossa experiência de vida é limitada e que precisamos estar abertos ao diferente.

