
Chaslands – trabalho e curtição
A Nova Zelândia seria, talvez, a última parada da minha volta ao mundo.Só que é um país caro e eu precisaria arrumar um jeito de economizar.
A melhor forma foi, assim como na Grécia, trabalhar em troca de hospedagem.
No Workaway encontrei um lugar bacana, Chaslands, na ilha sul da Nova Zelândia. Era um hotel e eu teria meu próprio chalé.
Me pegaram no aeroporto o que foi muito gentil pois é bem longe do hotel e lá não tem ônibus.
Aliás o transporte público na Nova Zelândia é uma merda, por isso que o pessoal usa muito carona para ir de um lugar pra outro.
Trabalhando em troca de hospedagem na Nova Zelândia

O Paul era dono do lugar junto com a Lynn. Eles me mostraram o que eles chamavam de mini resort. Um punhado de chalés, numa área não muito grande em meio a uma mata. O lugar era bem tranquilo mas sem atrativos para se chamar de resort.
Os outros também estavam trabalhando em troca de hospedagem com exceção dos chefs de cozinha que eram da Nova Zelândia mesmo.
Eu trabalharia 5 horas por dia, com duas folgas por semana e teria meu chalé, comida e um chope por dia. Nada mal.

No primeiro dia Paul me colocou para pintar um chalé perto da casa dele mas como o movimento no restaurante aumentou muito passei a trabalhar lá lavando louça.
Diferente da receptividade maravilhosa que tive na Grécia, aqui foi uma coisa bem fria.
Os outros trabalhadores estavam com visto de work holiday, aquele que permite trabalhar legalmente e consequentemente receber. Eles faziam mais horas semanais e menos folgas mas diferente de mim recebiam por isso. Tinham duas alemãs, um americano, um australiano e outra da Nova Zelândia mesmo.

Não sei se por causa de eu ser o mais velho ou ser brasileiro ou trabalhar menos que eles (mas não recebia nada) o fato é que não foram com a minha cara. Me excluíam das conversas não me chamavam pra nada com exceção do Jacob que era o sous chef. Ele era da Nova Zelândia e foi o único simpático comigo. Depois chegou um casal de ingleses que também eram legais mas o pessoal que já tava lá eram bem malas.
Mas isso não me atrapalhou pois nas minhas folgas explorei muito a região que tem cachoeiras, trilhas e praias. O clima tava frio para um mergulho mas bom para apreciar.
Curio Bay


Na minha primeira folga decidi ir de bike até Curio Bay, baía com falésias e um lindo mar azul. Só que era longe pra cacete, uns 62 km ida e volta. E pra piorar o pneu da bicicleta tava meio murcho. Claro que para ficar ainda mais divertido começou a chover no meio do caminho.

A estrada para lá já é linda, com subidas e descidas e pontos em que dá para avistar o mar. Eu cheguei só o bagaço então imagina meu drama na hora de voltar. Antes da metade da volta começaram as cãibras. Eu não ia conseguir. Tentei carona e nada. O jeito foi andar. Andando usava outros músculos e não doía. Aproveitei as descidas como nunca. Depois de algumas horas finalmente acabou o meu calvário. Me senti como a mulher maratonista na olimpíada de 1984 que chegou toda torta na linha de chegada.

McLean Falls
Depois de uma injeção de adrenalina para voltar a vida, após alguns dias peguei outra folga. Dessa vez enchi o pneu da bike e fui até a McLean Falls.
Da entrada na beira da estrada você faz uma pequena trilha de uns 20 minutos e chega a essa bela cachoeira.

Cathedral Caves
A maior atração dos Chaslands são as cavernas a beira mar que ficam inundadas na maré cheia, as Cathedral Caves na praia de Waipati. É uma caverna em forma de U com duas entradas dentro de uma falésia de pedra.



Tautuku
Beirando a estrada por Chasland tem muitas trilhas para serem feitas e a maioria muito bem sinalizada. É só pegar um mapa da região, ver qual trilha interessa e cair pra dentro.
Uma delas que me interessou foi a Tautuku Estuary Boardwalk, uma trilha que te leva para um pântano. Só que um belo de um pântano. Em determinada época do ano a vegetação rasteira fica completamente vermelha e é como andar por um tapete.
Eu não peguei essa época mas o lugar é realmente bonito e uma trilha bem fácil e gostosa de fazer.


Papatowai
De bike ainda segui até a região de Papatowai que também tem trilhas que podem te deixar na praia.
Por toda a região também tem muitos mirantes de onde se pode apreciar uma bela vista do mar azul.



O véio chapado
Num dia o Paul e a Lynn viajaram e o sous chef de cozinha Jacob iria sair de férias e decidiu fazer um bota fora. E ele me chamou.
Eles moravam dentro do resort numa casa. Foi todo mundo que trabalhava lá. Tinha muita cerveja e daí começou minha desgraça. A molecada gringa gosta muito de jogos de beber, algumas brincadeiras para encher a cara. Uma que fizeram por exemplo era tocar a música Roxane do Police e cada vez que o Sting cantava “Roxaneee” tinha que tomar um gole. Para entrar no clima entrei na brincadeira e quem conhece a música sabe que fomos ficando chapados rapidinho.

Mas o que fudeu a minha vida mesmo foi uma maconha que o Jacob trouxe não sei de onde que era forte pra cacete. Dei umas duas tragadas e fiquei doidão. Juntando que já tava bêbado deu merda. Fiquei parecendo um zumbi de Walking Dead. Só ouvia o pessoal comentando que eu tava ruim. Uma hora me perguntaram como eu tava e falei que tava ruim. Para um bêbado falar que tá ruim é que a coisa tá feia.

Resolveram me levar para o meu chalé. Só que eu não queria ir de jeito nenhum. Todo mundo tava na casa e o chalé era longe e se me desse um troço quem ia me ajudar? Me arrastaram até lá e na porta eu grudei na coluna e só falava:
– No! No!
E o Jacob ainda falava.
– Sou seu amigo! Sou seu amigo!
Me largaram lá com um balde pra vomitar e a promessa que voltariam pra me olhar em uma hora.
Não sei quanto tempo passou mas não é que o Jacob voltou mesmo? E eu já tava bem melhor.
Se o pessoal já meio que me excluía depois disso é que me ignoraram de vez. Povo fresco do caraio nunca ficaram chapados?

