Angkor – espetáculo arquitetônico
Se você acha emocionante andar por ruínas de um poderoso império e se sentir um verdadeiro explorador é obrigatório que você visite Angkor.
Na cidade de Siem Reap, Angkor é a jóia do Camboja. Tão importante para esse país que está até na sua bandeira. Angkor foi a capital do outrora poderoso Império Khmer e suas ruínas são um espetáculo grandioso.
Cruzando a fronteira por terra em Poipet
Em Bangkok decidi ir de ônibus até Siem Reap. É uma viagem de uma noite e pelo preço valia a pena. Só tinha um problema. Li relatos que a fronteira em Poipet é cheia de golpes contra turistas e os guardas de imigração cambojanos são corruptos.
Sabendo o que me esperava fui com a cara e a coragem, sozinho, cruzar esse pedaço perigoso do outro lado do mundo.
A viagem até a fronteira foi tranquila, até que o ônibus parou em um lugar e trocamos para uma van. Já em Poipet, bem próximo a fronteira a van pára num tipo de restaurante. E é ali que começa o golpe. Eles pedem o passaporte de todos. Eu não queria entregar, fiquei muito desconfiado mas como já tinha conversado sobre os golpes com outros passageiros e eles falaram que também não cederiam aos golpistas e todo mundo deu o passaporte, eu também entreguei o meu.
Todo mundo ficava esperando e começaram a chamar as pessoas uma a uma. E elas não voltavam. Já fiquei imaginando um tailandês com um avental de açogueiro, todo sujo de sangue, recolhendo os rins desses turistas incautos. Daí que me chamam. Vou para a salinha desconfiado. Sento em frente ao que parece o chefe e o picareta me fala: “Olá, bem vindo ao Camboja!”, “Camboja? Mas a gente não passou a fronteira ainda.” “Sim mas é como se já tivesse passado, basta você pagar 40 dólares para a gente e tudo estará resolvido”.
Para entrar no Camboja por terra é cobrado 30 dólares por cabeça, esses 10 dólares era puro golpe. Falei que sabia que não precisava pagar nada, que eles não eram a imigração. Daí que ele começou a retrucar bravo que sem eles eu iria ficar preso na fronteira, que se quisesse tentar a sorte era problema meu, querendo me botar medo para arregar e dar 10 dólares de lambuja para aqueles picaretas.
Mesmo com o cú na mão bati o pé, fui firme e falei que só queria que eles me levassem até Siem Reap, que foi o que paguei e que a imigração eu faria por conta própria. Contrariado o chefe chamou outra pessoa em Tailandês e me levou até a van que me levaria até a fronteira. Lá dentro já esperava quem não quis pagar os picaretas. Estavam os duros: um casal de espanhóis e um jornalista de Luxemburgo que vivia no sudeste asiático a muitos anos e conhecia muito bem esse tipo de picaretagem.
A van nos deixou na fronteira e daí para a frente o procedimento foi quase normal. Preencher uma ficha de imigração, pegar a fila, passaporte em mãos, pagar propina para os guardas…Opa! Sim, no posto do Camboja os guardas não fazem a menor cerimônia e colocam uma plaquinha que todos devem pagar 100 Baths. Claro que não precisa, só se deve pagar os 30 dólares direto na imigração mas você pega o passaporte com esses guardas corruptos e pelo equivalente a 10 reais eu achei melhor não comprar briga com guardas corruptos do Camboja. Paguei, cruzei a fronteira sem problema, peguei o ônibus do outro lado da e segui rumo a Siem Reap. Chupa trambiqueiros!
Siem Reap
No meio da selva, Siem Reap cresceu com base no grande número de turistas que visitam anualmente as maravilhosas ruínas. Por isso aceitam dólar para qualquer coisa que você pagar. Nos supermercados os preços até estão em dólar nas prateleiras. Isso foi uma boa pois eu tinha um pouco de dólar e não precisei trocar ou sacar dinheiro.
Obviamente que sendo as ruínas a grande atração é somente a noite que terá boas opções em Siem Reap. Tem um bom mercado noturno e uma rua com bares, restaurantes e comida de rua onde você pode provar a culinária cambojana.
O Camboja é quente pra caramba e lá eu tomei muito os shakes de frutas. Confiando que o gelo usado é de boa qualidade pode se acabar nos shakes porque são deliciosos e muito refrescantes. Uma cervejinha também vai bem. Toda noite eu ia com o pessoal do hostel ali jantar e tomar uma. É animado e mantém seu astral lá em cima para explorar as ruínas no dia seguinte.
Fiquei próximo ao mercado noturno, perto da rua principal que leva até Angkor. Decidi visitar as ruínas de bicicleta. Seria uma maneira de aproveitar melhor, faria tudo no meu tempo, curtindo a paisagem e ainda fazendo um exercício. Você pode ir de táxi, carroça, tuk-tuk e até bike elétrica. A bicicleta claro é a mais barata e para mim de longe a mais divertida. Mas é preciso ter perna.
Angkor Wat
Angkor é como era chamada a capital do antigo Império Khmer. Construída no seu auge entre os séculos IX e XV é Patrimônio da Humanidade e desses lugares únicos do planeta. Vale a pena ler mais sobre o Império Khmer e em detalhes sobre sua principal construção Angkor Wat.
Para entrar nos templos é preciso apresentar um ingresso. Pode ser de um dia, dois ou três. Te dá o direito de ir onde quiser naquele dia. Como eu queria explorar ao máximo comprei para 3 dias. Com o ingresso, peguei a magrela e segui direto pela estrada para o monumento mais famoso do país: Angkor Wat.
Esse prédio incrível em meio a selva, foi construído no começo do século XII como templo central e capital do reino, ainda como um templo hindu. Mais tarde, após conversão de um dos reis, foi utilizado como um templo budista.
Nas fotos acima as “escadinhas” para acesso a torre e aqui a visão lá de cima
Seu estilo arquitetônico único e seu excelente estado de conservação impressiona. Os longos corredores com dezenas de metros que contam histórias talhadas na pedra, as torres, lagos, a bela distribuição do jardim, tudo isso feito no meio da selva cambojana deixa a todos de queixo caído. No seu auge Angkor chegou a ser a maior cidade da humanidade.
Angkor Thom
Angkor Wat é o prédio mais famoso porém tem muito mais a se ver. Angkor Thom é uma cidade inteira, completamente murada e fiquei chocado com os portais de entrada. Conforme fui avistando de longe aquela muralha com uma cabeça gigantesca de pedra em cima da passagem não acreditei. Me senti na hora em um filme de Hollywood, o próprio Indiana Jones.
Entendi na hora porque esse tipo de ruínas de civilizações antigas causam tanta discussão de que poderiam ser feitas por aliens. Como esses caras fizeram essas construções incríveis a mil anos atrás no meio da selva do Camboja? Se hoje alguém resolvesse fazer grandes construções ali tenho certeza que teria muito trabalho, imagina a tanto tempo atrás. É realmente impressionante.
Bayon é desses lugares surreais. Esse templo com cabeças imensas guardando e observando os turistas que chegam em hordas, deveriam dar um babador para quem visita esse lugar. Construído no século XII já sob influência budista.
A região cobre mais de 200 km quadrados, alguns dizem ser mil e existem templos espalhados por todo esse lugar. Eu adorei ir de bicicleta pois podia escolher o templo que iria visitar, pegar estrada e pedalar só ouvindo o som do vento nas árvores. A maioria dos turistas só vão em Angkor Wat e Bayon então explorar os outros lugares é bem mais tranquilo e fácil de encontrar aquela ruína para chamar de sua.
Ta Prohm
Um pouco mais afastado esse templo ficou famoso pelo filme Tomb Raider. Daí você pensa, ah, só por isso que esse povo vem aqui, deve ser meia boca, mas não é. O mais legal desse templo é que a floresta o tomou para si, invadindo, destruindo e ao mesmo tempo paredes só estão em pé devido as raízes de muitas árvores que sustentam a estrutura. É uma espécia de simbiose arquitetura-floresta única.
As ruínas do Império Khmer estão num trabalho constante de manutenção e reconstrução mas nesse templo específico eles não terão coragem de restaurar a ser como era originalmente pois aqui a natureza também quis brilhar.
Ta Son
Outro templo onde a natureza foi caprichosa e de uma maneira muito delicada deu seu toque único e mágico. Foi construído no fim do século XII e início do XIII e foi um dos primeiros nos trabalhos de restauração mantendo a natureza.
O povo cambojano tem um histórico sofrido. Com o declínio do Império Khmer veio um período de dominação estrangeira (ficou sob domínio francês de 1863 a 1953) e depois o regime brutal de Pol Pot durante a década de 1970, o Khmer Vermelho. Com argumentos ridículos de todo ditador, esse psicopata, espalhou o terror com seu exército e assassinou cerca de 2 milhões de habitantes. As dificuldades ainda estão claramente lá mas o povo continua resistindo e recebendo bem as pessoas que vêm atrás dos tesouros desse país.
Posso dizer que foi um privilégio ter visitado esse lugar especial onde um passado recente trágico não conseguiu tirar o brilho de um passado secular espetacular. Que o futuro seja brilhante para esse país tão lindo.