Depois de conhecer as belezas de Pequim só faltava visitar a grande Muralha da China.
Essa construção gigantesca, a maior da humanidade, se estende por mais de 8 mil quilômetros e levou milhares de anos sendo construída. Não é um muro único, ela tem várias seções feitas de diferentes materiais e em diferentes tamanhos.
No hostel conversei com o pessoal que estava no meu quarto e todos já tinham ido. Lá vendia um pacote para visitar que além de não ser barato era num dos trechos mais cheios, o de Mutianyu.
Então pesquisei na internet pontos para visitar a muralha e vi num blog que muita gente vai até partes não restauradas para fazer um trekking. Escolhem trechos montanhosos com belas paisagens e caminham pelos escombros da muralha. Eu achei sensacional e decidi arriscar fazer isso. Existem empresas especializadas nesse passeio e o mais conhecido é entre Jiankou e Mutianyu mas li que dava para fazer por conta própria.
O problema é que eu teria que ir até um lugar e lá encontrar pessoas que estariam dispostas a fazer a mesma coisa. Decidi arriscar e fui com a cara e a coragem.
Cachorro sem dono

Em Pequim fui de metrô até o terminal Dongzhimen e peguei o ônibus 916 Express com destino a Huairou, teria que descer no meio do caminho, em Bei da jie (North Street) e encontrar outras pessoas que quisessem fazer o passeio e arrumar uma van ou táxi até a muralha. Normalmente as pessoas vão até Mutianyu.
No ônibus até tinha uns turistas mas disseram que já estavam em grupo fechado. Num ponto já próximo da cidade desceu metade do ônibus e eu fui junto. Era ali mesmo que ficavam as vans e os taxistas. Procurei por outras pessoas dispostas a fazer o tekking mas não encontrei ninguém.
Conversei com os caras da van e os taxistas mas queriam muita grana para me levar. Além disso não iria me aventurar sozinho no meio de escombros da Grande Muralha da China arriscando cair e quebrar uma perna. O jeito era esperar chegar outro ônibus e tentar entrar num grupo.
Chegaram outros e eu perguntava para onde estavam indo e se podia ir com eles e… nada. Já tava parecendo um cachorrinho sem dono. Até os taxistas começaram a tirar sarro da minha cara. Um veio até zoar a minha bunda de macaco mas eu retruquei que a dele era maior que a minha. Até que eles eram gente boa.

Eu já tava achando que tinha sido uma péssima idéia quando chega um pequeno grupo misto. Uns chineses, um ocidental grandalhão, duas loirinhas. Cheguei no grandão e perguntei se eles estavam indo para Jiankou, ele disse que não mas que iam para uma seção também para caminhadas, só que mais seguro e que terminaria em Mutianyu. Disse que tinha uma vaga e se eu quisesse poderia ir com eles. Uhu! Tava feito. Entrei na van com eles felizão!
Rolê na história
Aqui fica minha vergonha de ser péssimo com nomes, não anotei o nome de ninguém e acabei esquecendo. Foi bem o tipo de encontro casual, aquele do momento e só daquele momento. O que lembro deles foi das conversas em grupo. Tinha o grandão que era um inglês que estava trabalhando na China e nos finais de semana ia explorar diferentes trechos da muralha. Um chinês amigo desse inglês. Um casal de chineses que encontraram pelo caminho e as duas irmãs ucranianas que também se encontraram com o grupo pelo caminho.

Enfim era um grupo totalmente casual onde ninguém se conhecia e se juntou só para explorar a muralha. Legal demais!
A van nos deixou numa vilazinha, uma área entre Gubeikou e Mutianyu. Em frente a um morro começou nossa aventura. Teríamos que subir aquela pirambeira até o topo e dali seguir pela muralha até Mutianyu que era o melhor lugar para ir embora.
Ao chegar ao topo já valeu o passeio. Dali se via toda a cadeia de montanhas e aquele fio de pedras recortando a paisagem. Sensacional!
O caminho é meio perigoso, nesse trecho a muralha está em ruínas e numa parte bem alta. É preciso ficar atento para não torcer um tornozelo ou cair morro abaixo.

Mas vale muito a pena. Ali é a verdadeira muralha. A história dela está ali sem alterações, sem restauros. De sua época áurea que servia de proteção até o abandono completo. Tudo em meio as montanhas.
Por cada torre que passávamos explorávamos um pouco, elas tem pequenas salas e algumas davam para subir e ter uma visão espetacular. A famosa muralha chinesa sucumbiu aos estrangeiros. Pelo menos naquela hora.

Já chegando próximo a Mutianyu paramos para um lanche. E são nesses momentos que cai a ficha. Eu fazendo um lanchinho com gente de todo o mundo no meio das ruínas da Muralha da China!
Mutianyu
Chegando em Mutianyu a primeira torre já restaurada tem uma placa: “Perigo não siga por esse caminho!” justamente daonde viemos. Me senti o verdadeiro aventureiro.
Mutianyu já é a muralha turística. Totalmente restaurada, tem toda uma estrutura, estacionamento, lojas, restaurantes e uma horda de turistas. Até que nesse dia, talvez por ser inverno, não estava tão lotada e deu para caminhar tranquilo. Mesmo com tudo isso ainda é muito legal ver a muralha como no seu auge.






E para fechar vi que tem um trenó que vai da muralha até a base onde fica o estacionamento. Iríamos ter que descer de qualquer jeito então como já tinha economizado no trekking e economizado os 60 yuan para entrar na muralha, achei que seria uma ótima descer voando por ali. O pessoal foi de escada e eu fui de trenó. Pena que os chineses parecem que tem medo de velocidade e desciam feito lesmas o que acabou com a graça do negócio.


Lá embaixo me encontrei com a galera e fomos até a mesma van que nos levou para nos deixar no ponto de ônibus. Já em Pequim cada um foi descendo onde era melhor. Primeiro o inglês, depois as ucranianas e no fim eu e os chineses na estação.
Esse foi um dos grandes passeios da minha vida. Foi emocionante desde encontrar um jeito de chegar lá e ainda mais poder caminhar na muralha.
Não qualquer muralha, a maior e mais impressionante de todas: a Muralha da China!
